37.4 - Anexo IV – Mensagem de uma alma

Caríssimos,

Ha quanto tempo não escrevo, ha quanto tempo não pude dizer minhas palavras.Sempre essas mensagens lamuriosas, repetitivas, por que não dizer chatas.

Tantos mortais procurando uma palavra de consolo, como se houvesse consolo na morte.

Ora caríssimo se forem esperar para dizer aos seus o que deveriam ter feito, então, esperem sentados.

Porque a morte é cruel.

A morte não me caiu bem, fiquei mais pálido, fiquei mais esbranquiçado. Tonto, tanto que as íris dos meus olhos ficaram opacas.

Sempre achei que as íris dos olhos dos mortos brilhavam menos, e então os moribundos se faziam presentes, com suas íris opacas. Antes fosse um moribundo, então ainda teria íris.

E agora essa palidez, essa palidez que me toma.

E meu corpo que nunca foi dos melhores, agora simplesmente não existe, se foi ao pó. E então sobrei como espírito vagante e passante. Sobrei apenas como uma sombra daquilo que fui.

E não me digam sou uma alma penada.

Ora caríssimos, não tive pena de mim nem na vida, teria na morte? Fazem-me rir. E então acendem velas para que eu possa entender que a luz está nelas. Mas, então, desistiram de mim, Dizem que sou terreno demais, boêmio demais, humano de mais.

Desistiram de mim, por que também nunca fui dado a fazer o mal. Nunca fui dado a atrapalhar a vida de ninguém e, então, por que o faria agora?

Ora caríssimos tenho mais o que fazer com minha morte.
Se não aproveitei a vida o suficiente, então ao menos me deixem aproveitar a morte.

E olhe que nem mais posso beber e fumar, então, um desperdício, a fumaça ultrapassa minha sombra e se vai, sem que eu possa ao menos sentir um tico do prazer da nicotina.Então tão desgastante aproveitar a morte.

Poderia ensinar, dar aulas. Dar aulas? Quem gostaria de aprender comigo? Ora caríssimos, se fiz versos na vida, por que não os faria na morte? E tão ácidas sempre disseram que foram minhas palavras porque agora na tumba seriam diferentes?

Não fui para o céu, alias nunca acreditei no céu.

E então fico nesse plasma onde nada de emocionante acontece, entre umas assombrações e outras, às vezes um pouco mais brancas, um pouco mais estragadas.

Tão sem graça a morte, que achava que a vida era melhor?

Ou não? Quem sabe?Quem poderá saber?

Essas almas caridosas e transformadas em anjos?

Ora caríssimos, elas nem ao menos aproveitaram a vida, iriam aproveitar a morte?

Gente sem graça, gente sem corpo...E nem bebem...E nem fumam...Mas também...Para que a fumaça lhes passe pelos pulmões, que graça há?

Então me deixaram escrever, que dizem é o que faço de melhor.

Então porque não me deixam escrever livros?

Também, nunca tive paciência para isso, porque então teria agora?

Por isso sempre preferi os versos, curtos, cortantes, rápidos.

E se esvaem em si mesmos e dizem muito sem nada dizer e então por que agora escreveria cartas?

Alias, deixem-me com os versos, deixe-me destilar minhas palavras em papel, por que, pelo menos ainda as tenho.




Larvas e Causas

E agora então da tumba,
Posso contar causos e, da tumba
posso também contar larvas.

Uma causa ou outra.


Amor depois tumulo

E então se fez a vida eterna...Para que se não posso sentir o perfume da minha morena?
E então se fez a vida eterna...Mas para que me serve se não posso receber um cafuné.
E então se fez a vida eterna...
E as saltimbancas de túmulos.
Sejam bem vindas.


Tumor ou Mau Humor?


Me comeu as entranhas
Me corroeu os ossos
E depois cuspiu meu sangue.
E ainda por cima, quis fazer sofrer os meus.
Desisti, resolvi sorrir e descobri que não era tumor, era mau humor.


Lagrimas.

E derreteram velas e despojaram lagrimas.
As lagrimas apagaram as velas.
Eram falsas.