35 - A Umbanda e a Compreensão



Depois de tudo foi explicado é preciso parar e refletir. Porque ser umbandista é ter, antes de tudo, a possibilidade de compreender.

Compreender que enquanto seres humanos os filhos possuem falhas, insucessos e quedas. Compreender que do todo, a angustia, a dor, o sofrimento, o desejo estão a fazer parte.

Que não é possível realizar a separação entre o corpo e espírito, enquanto encarnados, pois se um sabe, o outro sente.

Portanto compreender é acima de tudo entender que fazem os filhos parte de um mesmo todo. Que são divinos, mas principalmente divinamente humanos.

E, portanto, o arrependimento, o erro, a frustração, dividem palco com a felicidade, a bondade, a paz.

Vivem os filhos em guerra pela paz. Rezam para renascer. Pedem para que a dor seja estancada, mas que possam aprender sem sofrer. Odeiam enquanto sorriem e sorriem enquanto se amarguram.

São os filhos, assim, complexos.

Um pouco bons, um pouco ruins, uma mescla de lágrimas, suor e bênçãos.

Mas precisam, antes de tudo entender que a beleza da complexidade está no fato de que ela é única.

Que não podem ser eternamente bons ou eternamente ruins, que um tempo de tristeza não dura para sempre, mas que um ciclo de felicidade também não.

Oxalá teve raiva, Oxalá chorou pelos seus e conseguiu perdoar, mas antes teve de percorrer um caminho tortuoso.

Então porque os filhos, espíritos em evolução, poderiam se valorizar a ponto de acreditarem que nunca irão errar, que nunca irão cair?

A que ponto de alto valorização chega uma alma que não se permite errar. E que quando erra, se cobra até a eternidade?

Ser umbandista é antes de tudo compreender. Compreender que fazem os filhos parte de um todo complexo, tão complexo quanto qualquer organismo vivo.

E, que, sim, erram. Alias erram muito mais vezes do que acertam.

E, então, perdem, caem, se desesperam e eternamente se cobram.

É preciso entender que todos erram e que errar faz parte da caminhada.

É preciso entender que cada erro leva ao pagamento. Mas que sim, podem os filhos diariamente saldar suas dividas.

E que a cada divida saldada, lhes é dado aprender. Que toda a jornada tem seus tombos, mas que é possível se levantar de cada um deles. Mais machucados, porque não, mas mais calejados também. Mais doloridos e eternamente marcados, mas mais belos e altivos.

E é preciso saber que nunca é tarde para cair, que àquele que se julga superior aos erros, comete o maior deles: subjuga o lado humano, desrespeita o poder do perdão que é dado a todo que cai.

E o poder de perdão não é o outro. A ninguém, a não ser a Oxalá, cabe julgar ou perdoar o terceiro. A ninguém cabe julgar e perdoar a não ser a si próprio.

E o perdão a si próprio é o mais difícil.

Nem Oxalá é tão intransigente com os erros como os próprios filhos. Porque Oxalá é pai e entende seus filhos como seres complexos, humanos.

Mas os filhos não.

Compreendem e enxergam apenas os erros e não se permitem errar. Não se permitem cair. E se caem não se dão o alivio do perdão. O entendimento de que inobstante haja um preço, esse preço pode ser pago.

Que podem recomeçar quantas vezes necessárias forem, sempre entendendo que antes de tudo, irão cair novamente. Que irão cair muitas vezes, no mesmo buraco, da mesma forma.

E então, mais uma vez se levantarão e continuarão a caminhada, que por certo, depois do tombo se tornará maior a missão.

Mas podem recomeçar, tendo a certeza que ainda é tempo de renovar, de aprender novamente, e que ninguém, nem aos próprios filhos é dado retirar o poder divino do reinicio e, desta vez, quem sabe, pelo caminho que estará correto ate o próximo e inevitável erro.

Porque os erros ensinam e os medos paralisam.

Porque são os filhos almas em evolução e simplesmente almas.